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sábado, 30 de abril de 2011

Cotidiano Escolar: uma prática social em construção (texto 2)

Sabemos que as mudanças ocorridas nas escolas acontecem de maneira lenta e às vezes não são valorizadas. Sabemos que as escolas ainda têm resquícios de seu tradicionalismo, porém estão bem mais abertas para as idéias dos professores. Prova disso são os currículos ocultos que acontecem todos os dias nas escolas. O que devemos ter em mente é que não temos como aplicar as ações que deram certo em uma instituição, que tem seus costumes, suas necessidades, em outra escola sem ao mesmo estudá-las e adaptá-las para cada realidade.Porém como profissionais da educação devemos sempre valorizar e fortalecer as conquistas obtidas no âmbito da educação e passá-las a diante, a fim de facilitar o caminho a ser percorrido por outros e/ou novos educadores. A necessidade de criar um espaço vazio para a criação do novo, uma vez que, estamos sempre submetidos a uma proposta pedagógica curricular. Profissionais da educação estão dispostos a discutir algo novo, inventam e revolucionam nas escolas de acordo com a realidade de cada um. Deve haver mais trocas de experiências entre profissionais da área da educação. Esta deveria ser uma prática constante, fazer parte do dia-a-dia desse profissional, porém a realidade que conhecemos não é essa. Muitas vezes vemos cada um "fazendo o seu" e ponto final. Não existe uma realidade única, é preciso conhecer os "espaços" que guardam a memória de uma liberdade de ação, e observa-se que as reformas educacionais não levam isso em conta. Os processos pedagógicos devem ter a participação do coletivo e é indispensável um diálogo fértil e crítico, respeitando às "nossas redes de significação".
No cotidiano escolar deve-se buscar experiências alternativas, vontade de fazer, a discussão de possibilidades e colocar em relevo as características, os acontecimentos e os sujeitos com todos os seus saberes, sentimentos, gostos e interesses. Conclui-se que a compreensão dessas marcas cotidianas exige uma atenta composição que leva em consideração as ordens éticas, epistemológicas, teóricas e práticas durante todo o processo de buscar como é o currículo em ação em uma determinada escola."....Tem constantemente que jogar com os acontecimentos para os transformar em ocasiões." (Certeau, 1994, p.47). O professor é um sujeito inovador, podendo inovar junto aos alunos, como no comentário acima, como também é afetado pelo cotidiano do local onde exerce sua profissão, o professor não transmite conhecimento e sim informações. O conhecimento é fruto da interação do aluno/professor, nos questionamentos e divergências sobre aquele informação. A escola deve portanto valorizar e trabalhar com os múltiplos conhecimentos dos alunos acreditando em sua potencialidade, onde destaco aqui a liberdade de expressão, religião e demais orientações que se postos em prática no cotidiano escolar contribuirão para um currículo que realmente colabore na formação de cidadãos, não estando "engessado" , tão pouco atrelado a realidades que nada tem a ver com a comunidade na qual está inserida. Sou a favor do currículo que possibilite plena autonomia ao professor e alunos a descobrir outras didáticas sobre o tema, como também uma fiscalização para saber se estar tudo em ordem. Uma fiscalização para verificar se o conteúdo esta sendo executado de uma forma criativa e que faça despertar no aluno o prazer de descobrir, de poder indagar, questionar e outros.
É curioso notar que, apesar dos cursos de formação de professores enfatizarem que ler é uma atividade complexa, pois envolve a conjugação de ações múltiplas como percepção, decodificação e processamento de informações, memória, predição (antecipação), inferência, dedução, evocação, analogia, síntese, análise, avaliação e interpretação, falta a grande parte dos professores a vivência dessa atividade cognitiva, tão distante da apresentada a eles na sua formação. As próprias reflexões e orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais sobre o que seja um leitor competente e como se dá o processo de leitura encontram uma lacuna entre o que preconiza e os conceitos construídos pelos professores. E transformar esses conceitos não é tarefa fácil, pois quando o professor se vê sozinho em sala de aula, mesmo tendo recebido uma gama de informações em cursos de formação, ele retoma suas práticas cotidianas sem grandes modificações ou tentando incluir pequenas transformações. Essas pequenas transformações, não vivenciadas por ele, não trazem grandes resultados já que ele também as emprega de maneira técnica sem a construção necessária de sentido do texto.
Nos anos 70, proliferou o que se chamou de ‘tecnicismo educacional’, inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, definiu uma prática pedagógica altamente controlada e dirigida pelo professor com atividades mecânicas inseridas numa proposta educacional rígida e passível de ser totalmente programada em detalhes. (...) O que é valorizado nesta perspectiva, não é o professor mas sim a tecnologia, o professor passa a ser um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade fica dentro dos limites possíveis e estreitos da técnica utilizada. (...) Esta orientação foi dada para as escolas pelos organismos oficiais durante os anos 60 e até hoje persiste em muitos cursos com a presença de manuais didáticos com caráter estritamente técnico e instrumental.
Há uma repetição diária, nas inúmeras salas de aula espalhadas pelo país, e modelos adquiridos, como alunos, através de uma vivência pedagógica tecnicista, inspirados nas teorias behavioristas, tão presentes ainda nos materiais pedagógicos, em que o aluno reage aos estímulos de forma a responder o esperado pelo professor, sem grandes possibilidades de reflexões sobre a língua e a linguagem.
No final dos anos 70 e início dos 80, constituíram-se as denominadas Pedagogia Libertadora e Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos, ambas propondo uma educação crítica a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas para a superação das desigualdades existentes no interior da sociedade.
A Pedagogia Libertadora tem suas origens no movimento da educação popular, no final dos anos 50 e início dos anos 60, quando foi interrompida pelo golpe militar de 1964, e retoma o seu desenvolvimento no final dos anos 70 e início dos anos 80. Nesta proposta a atividade escolar pauta-se em discussões de temas sociais e políticos e em ações sobre a realidade social imediata; analisa-se os problemas, os fatores determinantes e estrutura-se uma forma de atuação para que se possa transformar a realidade social e política. O professor é um coordenador de atividades que organiza e atua conjuntamente com os alunos. Pedagogia Libertária inscreve-se no contexto das teorias modernas da educação. Neste sentido, possui uma fundamentação filosófica e política que lhe é própria, embora esta fundamentação esteja relacionada com outras teorias e práticas pedagógicas que lhe são contemporâneas.
Um dos principais eixos da educação libertadora proposta por Freire é o combate acirrado à dominação e opressão dos "de baixo". Esses podem ser entendidos como os excluídos da sociedade capitalista, os "demitidos da vida", os "esfarrapados do mundo". Sua obra acredita na intenção de mudança, presente em cada ser humano, na conscientização dos "de baixo" que são, a todo instante, explorados pelos "de cima". A alfabetização de adultos proposta por ele, procura resgatar a dignidade daqueles que durante toda a vida construíram a riqueza de uma nação, e pelo preconceito, pela fadiga e pelo cansaço não conseguem mais gerar o lucro dos patrões e, por isso são considerados descartáveis.
Sua proposta se distingue pela contundência de sua crítica, pela sua luta inabalável contra a opressão e a dominação. Sua obra sobressai pela trajetória militante em sala de aula, o que o diferencia no apelo em prol de um modelo educacional que negue a escola de imitação das bases dos processos educacionais norte-americanos e europeus, predominantes durante toda a história da educação no Brasil. Sua ação prática junto às comunidades da periferia, aos núcleos de favelas, à terceira idade, o credencia como educador destacodo pela militância concreta, colada à realidade sofrida das populações. Um dos grandes diferenciais da educação proposta por ele, dos outros modelos fundados sob bases teóricas. Através da prática Paulo Freire construiu sua teoria, por meio da ação construiu a esperança, através da militância, espalhou conhecimentos. Esses elementos demonstram a sua contribuição inegável para a educação brasileira. Contribuição que na maioria das vezes, deixou de merecer o devido reconhecimento de seu próprio país, apesar de reconhecida no restante do mundo. Foi preciso sua morte física (não de suas idéias) para que ela começasse a ser pesquisada no Brasil.
A proposta de Paulo Freire também leva a marca da preocupação com o fator humano. Acima de tudo investiga o homem enquanto humano, portanto de interesse para humanização. Desta forma ele procurava contextualizar o homem nos seus aspectos históricos, políticos, econômicos e sociais. Isso fazia com que ele enxergasse a educação fora dos muros da sala de aula tradicional, fazia com que ele percebesse o homem enquanto sujeito histórico e transformador dentro do grande ambiente global, onde se edifica a sociedade dos tempos modernos.

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