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Um panfleto de idéias, arte e filosofia....

segunda-feira, 25 de abril de 2011

FILOSOFIA ANTIGA E MEDIEVAL

A filosofia nasce quando os seres humanos começam a tentar entender o mundo, não por meio da religião ou pela aceitação da autoridade, mas pelo uso da razão. Isso parece ter começado entre os antigos gregos, nos séculos VI, V e IV a.C. Suas primeiras perguntas foram: "de que é feito o mundo?" e "o que sustenta o mundo?" Mas então veio Sócrates, o mais famoso de todos os filósofos gregos, e disse que o mais importante é o modo como se deve viver. Sua pergunta básica era: "que é justiça?" Seu discípulo Platão foi o primeiro filósofo ocidental cujos escritos sobreviveram e são hoje estudados em universidades de todo o mundo. Aristóteles, discípulo de Platão, foi um gênio semelhante.
Os primeiros filósofos fizeram de uma só vez duas grandes rupturas com o passado. Em primeiro lugar, tentaram entender o mundo com o uso da razão, sem recorrer à religião, à revelação, à autoridade ou à tradição. Isso, por si só, foi algo totalmente novo, e um dos mais importantes marcos do desenvolvimento humano. Mas ao mesmo tempo eles ensinavam outras pessoas a usar a própria razão também e a pensar por si mesmas. Assim, nem sequer esperavam que seus próprios discípulos concordassem necessariamente com eles. Foram os primeiros mestres a não tentar transmitir um corpo de conhecimento puro e intacto, inviolado, ao contrário, encorajavam seus discípulos a discutir e argumentar, a debater, a propor idéias próprias.
Esses dois desenvolvimentos na vida mental da humanidade, ambos revolucionários, estão ligados, e por isso entraram em cena juntos. Eles foram as bases do que hoje se chama "pensamento racional".
Durante os mil anos entre a queda do Império Romano, no século V d.C., e a aurora do renascimento, no século XV, a tocha da civilização na Europa Ocidental foi carregada sobretudo pela Igreja Cristã. Mas, antes de estarem dispostos a abraçar qualquer idéia ou descoberta, os cristãos precisavam se assegurar de que ela não era incompatível com o cristianismo. Assim, os escritos dos maiores filósofos da antiguidade eram esquadrinhados para determinar quais de suas idéias harmonizavam-se com o cristianismo e quais deviam ser rejeitadas. A síntese suprema foi obtida perto do final do período, nos escritos de Tomás de Aquino, que produziu uma visão de mundo ampla e abrangente, harmonizando o que eram os principais sistemas de pensamento.
Na Idade Média, o pensamento filosófico se tornou dependente da teologia. É nessa época que o Cristianismo se torna a religião oficial do império Romano e começa a se buscar fundamentos filosóficos para essa religião na Grécia Antiga.
A Filosofia que se cultivou na Europa durante os períodos Patrístico e a Idade Média foi, em grande parte, uma filosofia elaborada por cristãos. Contudo, houve também, a partir do século VIII, uma filosofia de inspiração mulçumana e outra produzida por judeus. A herança greco-romana já havia sido posta de lado desde o século V. E isso facilitou o florescimento destas filosofias de inspirações religiosas. Não obstante, é um fato o predomínio de uma filosofia produzida sob inspiração cristã. Talvez, devido a isso, alguns pensadores, como E. Gilson e J. Maritain, propuseram a definição da História da Filosofia Medieval como o estudo da Filosofia Cristã, o que gerou uma controvérsia, pois E. Bréhier e L. Brunschvig, sustentaram que não existiu uma filosofia tipicamente cristã neste período. Não nos parece lícito dizer que a História da Filosofia Medieval seja uma História da Filosofia Cristã por esta haver sido mormente cultivada durante este período. Tem certa razão A. de Libera ao dizer que a história da filosofia medieval não é a história da filosofia cristã , porque são várias as durações: uma latina, uma grega, uma árabe-muçulmana, uma judaica . Contudo, é lícito afirmar que houve efetivamente no epicentro da História da Filosofia medieval o desenvolvimento de uma filosofia própria do cristianismo e que se destacou pela originalidade no tratamento de certos temas teológicos.
Enquanto o pensamento de Santo Agostinho representou o desenvolvimento de uma filosofia cristã inspirada em Platão, o pensamento de São Tomas de Aquino reabilitou a filosofia de Aristóteles até então vista sob suspeita pela Igreja, mostrando ser possível desenvolver uma leitura de Aristóteles compatível com a doutrina cristã.
Agostinho sentiu-se despertado para a filosofia pela leitura de Cícero. Posteriormente, deixou-se influenciar pelo maniqueísmo, seita persa que afirmava ser o universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal, mantendo uma incessante luta entre si. Mais tarde, já insatisfeito como o maniqueísmo entrou em contato com o neoplatonismo (movimento filosófico do período greco-romano desenvolvido por pensadores inspirados em Platão), que, na época, tinha como característica o ceticismo. Cresceu e se aprofundou em Agostinho uma grande crise existencial, uma inquietação quase desesperada em busca de sentido para a vida.Foi nesse período crítico que ele se encontrou com Santo Ambrósio, bispo de Milão, sentindo-se extremamente atraído por suas pregações. Pouco tempo depois, converteu-se ao cristianismo.

O pensamento de Agostinho reflete, em grande parte, os principais passos de sua trajetória.

Do maniqueísmo ficou uma concepção dualista, simbolizada pela luta entre o bem e o mal, a alma e o corpo. Neste sentido, dizia que o homem tem uma inclinação natural para o mal. Insistia em que já nascemos pecadores e somente um esforço consciente pode nos fazer superar essa deficiência ?natural?. Considerando o mal como o afastamento de Deus, defendia a necessidade de uma intensa educação religiosa.

Do ceticismo ficou a permanente desconfiança nos dados dos sentidos, isto é, no conhecimento sensorial, conhecimento que nos apresenta uma multidão de seres mutáveis, flutuantes e transitórios.

Do neoplatonismo, Agostinho assimilou a concepção de que a verdade, como conhecimento eterno, deveria ser buscada intelectualmente no mundo as idéias.

Com o cristianismo, defendeu a via do autoconhecimento, o caminho da interioridade, como instrumento legítimo para a busca da verdade. Somente o íntimo de nossa alma, iluminada por Deus poderia atingir a verdade das coisas. Provoca, com isso, a submissão do espírito à matéria, equivalente à subordinação do eterno ao transitório, da essência à aparência.

Assim, a teoria agostiniana estabelece que todo conhecimento verdadeiro é o resultado de um processo de iluminação divina, que possibilita ao homem contemplar as idéias, arquétipos eternos de toda a realidade. Nesse tipo de conhecimento a própria luz divina não é vista, mas serve apenas para iluminar as idéias. Um outro tipo seria aquele no qual o homem contempla a luz divina, olhando o próprio sol: a experiência mística.

Isso significa que, para Agostinho, a fé revela verdades ao homem de forma direta e intuitiva. Vem depois a razão esclarecendo aquilo que a fé já antecipou.

Já Tomás de Aquino viveu intensamente os conflitos intelectuais, típicos de sua época, que opunha o conhecimento pela razão, a teologia à filosofia, a crença na revelação biblíca às investigações dos filósofos gregos.

Inserida no movimento escolástico, a filosofia de Tomás de Aquino (o tomismo) já nasceu com objetivos claros: não contrariar a fé. De fato, a finalidade de sua filosofia era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender as revelações do cristianismo.

Assim, Tomás de Aquino reviveu em grande parte o pensamento aristotélico com a finalidade de buscar nele os elementos racionais que explicassem os principais aspectos da fé cristã.

Retomando as idéias de Aristóteles sobre o ser e o saber, Tomás de Aquino enfatizou a importância da realidade sensorial. No processo de conhecimento dessa realidade, ressaltou uma série de princípios considerados básicos, dentre os quais de destacam:

- princípio de contradição: o ser é e não é. Não existe nada que possa ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista

- princípio da substância: na existência dos seres podemos distinguir a substância ( a essência propriamente dita) e o acidente (a qualidade não-essencial, acessória do ser)

- princípio da causa eficiente: todos os seres que captamos pelos sentidos são seres contingentes, isto é, não possuem, em si próprios, a causa eficiente. Portanto, para existir, o ser contingente depende de um outro ser que representa a sua causa eficiente: este outro ser é chamado de ser necessário.

- Princípio da finalidade: todo ser contingente existe em função de uma finalidade, de um objetivo, de uma razão de ser. Enfim, todo ser contingente possui uma causa final.

- Princípio do ato e da potência: todo ser contingente possui duas dimensões ? o ato e a potência. O ato representa a existência atual do ser, aquilo que está realizado e determinado. A potência representa a capacidade real do ser, aquilo que não se realizou mas pode realizar-se. È a passagem da potência para o ato que explica toda e qualquer mudança.

Segundo Santo Tomás a razão pode provar a existência de Deus através de cinco vias, todas de índole realista: considera-se algum aspecto da realidade dada pelos sentidos como o efeito do qual se procura a causa.
A primeira fundamenta-se na constatação de que no universo existe movimento. Baseado em Aristóteles, Santo Tomás considera que todo o movimento tem uma causa.

A segunda via diz respeito à idéia de causa em geral. Todas as coisas ou são causas ou são efeitos, não se podendo conceber que alguma coisa seja causa de si mesma.

A terceira via refere-se aos conceitos de necessidade e possibilidade. Todos os seres estão em permanente transformação, alguns sendo gerados, outros se corrompendo e deixando de existir.

A quarta via tomista para provar a existência de Deus é de índole platônica e baseia-se nos graus hierárquicos de perfeição observados nas coisas.

A quinta via fundamenta-se na ordem das coisas.

A distinção real ou ontológica entre essência e existência possibilitou a Tomás de Aquino refutar racionalmente e rejeitar como heréticas certas concepções correntes, na época, sobre dogmas da encarnação de Cristo e da Trindade.

A harmonização, no plano social e político, entre poder temporal e poder espiritual seria análoga à que Santo Tomás procura estabelecer entre filosofia e teologia, entre razão e fé.

Desse modo, podemos verificar os responsáveis pelo resgate cristão das filosofias de Platão e Aristóteles, respectivamente, Agostinho e Tomás de Aquino.

 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1- Gilson, Étienne. O espírito da filosofia medieval. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
2- Marcondes, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein / Danilo Marcondes. - 5. ed. revista. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,2007.
3- Bonati, Sérgio Gazolla. Apostila Filosofia - Filosofia Antiga e Medieval - SIGNORELLI. RJ: 2007.

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