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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Descartes e sua época

Em 31 de março de 1596 nasce na França, em pleno século do Renascimento, René Descartes, em La Haye (atual Descartes), perto de Tours, na casa de sua avó materna, sendo o terceiro filho sobrevivente de Joachim Descartes, conselheiro do Parlamento da Bretanha, e de Jeanne Broachard. De família nobre, aos 8 anos é enviado para o Colégio Jesuíta La Flèche, em Paris. Foi um brilhante aluno e terminou o secundário em 1612. Em 1615 - 1616 cursa Direito e talvez um pouco de medicina na Universidade de Poitiers, obtendo seu bacharelado e licenciatura em direito civil e canônico em novembro de 1616. Alistou-se nas tropas holandesas de Maurício de Nassau em 1618, onde trava conhecimento com Isaac Beeckman, que reaviva seu interesse nos assuntos científicos, nesse momento entra em contato com a nova física copernicana. Lutou na Guerra dos Trinta Anos e teve que retornar a Paris para receber a herança da mãe, onde frequentou os meios intelectuais. Dedicou-se ao estudo da filosofia, com o objetivo de conciliar a nova ciência com as verdades do cristianismo. Em 1629, foi para Holanda para evitar problemas com a Inquisição e empenhou-se no estudo da matemática e da física. Seus estudos de filosofia são retomados em meados de 1637, onde escreveu muitos livros e cartas, sendo famosas as cartas filosóficas à princesa Elisabeth ( Alemanha) e à rainha Cristina da Suécia. No fim de fevereiro de 1649 é convidado a ir à Suécia, para visitar a Rainha Cristina. Não suportando o rigor do inverno, aí morre de pneumonia um ano depois (1650).
Descartes deixou uma vasta obra e seus livros mais acessíveis são O discurso sobre o método e As meditações metafísicas. Todos seus livros foram proibidos - colocados no Index - pela Igreja em 1662.
A França de Luíz XIV vivia uma época de instabilidade e de pertubações políticas e sociais. A nova física de Galileu (adotou o sistema Copérnico) põe radicalmente a concepção aristotélica do cosmo e desafia a autoriadade da Igreja. Houve a divisão entre católicos e protestantes com a Reforma e muitos são os partidários do ceticismo de Montaigne. Filósofos e cientístas ficaram amedrontados com a condenação de Galileu pelo Santo Ofício. Descartes, ao mesmo tempo homem da ciência e crente sincero, tenta mostrar que não há incompatibilidade entre as verdades da ciência e as verdades da fé cristã.
Fundador da Filosofia ModernaPode-se dizer que com Descartes a filosofia volta a estaca zero, sendo o fundador da filosofia moderna, uma vez que, ele vai firmar novas posições em relação a como conhecer e porque conhecer as coisas. No seu tempo, os céticos e todos aqueles que eram contra a igreja e contra a ciência queriam fundamentar o seu conhecimento por meio do "não conhecimento", ou seja, da dúvida. No entanto, essa dúvida estava baseada não em certeza científica mas no simples fato de duvidar por duvidar das coisas. Se duvidavam da existência de Deus, da justiça, da virtude, do amor e todos os elementos não matemáticos. René, que tinha estudado matemática, aplicou o método de conhecimento matemático, da precisão científica da matemática, dentro da área de humanas.
No inverno de 1619 chegou a sonhar por três noites seguidas que sua vocação seria reformar a ciência. Ele percebe que todo conhecimento que foi formulado e ensinado a ele até então deveria ser posto a prova , é o que chamamos hoje de dúvida metódica (Dubtatum Dubitandum) ou a dúvida cartesiana. Descartes não duvida da existência daquilo que se afirma como real, mas irá duvidar da possibilidade do conhecimento.
O racionalismo cartesiano pode ser definido como a doutrina que, por oposição ao ceticismo, atribui à razão humana a capacidade exclusiva de conhecer e de estabelecer a verdade, sendo esta independente da experiência sensível, posto ser ela inata, imutável e igual em todos os homens.
Descartes duvida da possibilidade do conhecimento que nesse período é formulado por meio da razão e dos sentidos, ou seja, o conhecimento cognoscente (daquele que conhece) e o cognoscível (daquele objeto que é conhecido). Tem -se o questionamento de Descartes; Será que posso aplicar essa certeza matemática a áreas não matemáticas? Por exemplo, no conhecimento de Deus? Os sonhos são formas de pensamento?
Em sua teoria tem-se a idéia de um gênio ruim (anjo mal ou Deus enganador), ou seja, quando durmo se estou pensando ao sonhar algo, esse algo no meu sonho pode ser tão real que posso me assustar e ter taquicardia (os sonhos parecem realidade). Na visão de René Descartes, estou enganado daquilo que estou pensando enquanto durmo. Esse ato de ser enganado é um gênio ruim que faz com que eu pense que estou pensando e a partir de então, me engano, não quer, não deseja que eu pense. Se ao pensar, sou enganado, então é porque penso. Daí surge a primeira certeza de Descartes "Penso, logo existo."
O homem é um animal essencialmente racional. No início de seu Discurso sobre o método, ele afirma a igualdade, de direito, do bom senso ou a razão; todos nós possuímos a razão, ou seja, essa capacidade de bem julgar e de discernir o verdadeiro do falso. Nem todos os homens, porém, utilizam corretamente sua razão. Havendo a necessidade de um método, de um caminho certo e seguro.

O bom senso é o que existe de mais bem distribuído no mundo. Porque cada um se julga tão bem-dotado dele que mesmo aqueles que são mais difíceis de se contentar com qualquer outra coisa não costumam desejar possuí-lo mais do que já têm. E não é verossímil que todos se enganem a esse respeito. Pelo contrário, isso testemunha que o poder de bem julgar e de distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se denomina bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos oos homens;e que, por isso, a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de uns serem mais racionais do que os outros, mas somente do fato de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e de não considerarmos as mesmas coisas.
                                                                                                                        (Discurso sobre o método , 1)

O método cartesiano pode ser dito então como, "o exame dos fundamentos do pensanmento humano" que tem por objetivo conduzir bem a razão, procurar a verdade nas ciências e está baseado na teoria de Descartes em quatro princípios ou regras fundamentais:
a) regra da evidência - onde tem-se a eliminação completa da dúvida
b) regra da análise - divide-se cada problema que se estuda em tantas partes menores para melhor resolvê-las. Decomposição do problema do complexo em partes elementares.
c) regra da síntese - conduzir com ordem meus pensamentos começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de se conhecer para elevar-se pouco a pouco como por degraus até o conhecimento dos mais complexos (conhecimento do particular para o universal).
d) regra do desmembramento (verificação) - estabelecer um controle efetuado mediante a enumeração completa dos elementos analisados e a revisão das alterações siintéticas.
Em suma para proceder com retidão em qualquer pesquisa é preciso repetir o movimento de simplificação e ordenamento típico do conhecimento geométrico. Com esse método tem-se a evidência racional por meio da análise, da síntese e do controle. Para Descartes o simples não é o universal da filosofia tradicional, assim como a intuição não é a abstração (intuição não é conhecimento), a filosofia não é mais a ciência do ser e sim a doutrina do conhecimento (teoria do conhecimento) a gnosiologia. Existem apenas dois tipos de substâncias claramente distintas e irredutíveis uma à outra, o Rex Cogitan (ser pensante) onde pensar e ser são a mesma coisa e o Rex existensa (ser pensado), o mundo material no qual se pode compreender ou conhecer algo ainda que de forma limitada.Obras do autor e sua temática central
Meditações Metafísicas - Das coisas que se podem colocar em dúvida
Descartes apresenta uma estratégia de refutação do ceticismo, interpretado como a negação da possibilidade do conhecimento. Tem-se o questionamento dos sentidos como fonte confiável de conhecimento, o argumento do sonho e da ilusão, que coloca em dúvida nossas impressões sensíveis porque quando sonhamos ou nos iludimos elas parecem verdadeiras, e, finalmente, o que se pode considerar a contribuição de Descartes à argumentação cética, a dúvida hiperbólica, ou exagerada: o argumento do Deus enganador. Descartes imagina um ser todo poderoso que interfere sistematicamento em nosso processo de conhecimento de tal forma que não possamos ter certeza de nada.
Meditações Metafísicas - O argumento do cogito
O argumento do cogito é a saida de Descartes para o impasse o qual argumenta do Deus enganador. Se a existência do Deus enganador nos leva a colocar tudo em dúvida, já que não podemos ter certeza de nada, então tudo o que nos resta é precisamente a dúvida. A dúvida é uma forma de pensamento , portanto duvidar é pensar. Isso mostra que a existência do pensamento não pode ser colocada em dúvida, já que duvidar é pensar. Mas, se há pensamento, há o ser pensante. Este o sentido fundamental da famosa fórmula "Penso, logo existo" (Discurso do método, IV). A existência do ser pensante é assim, para Descartes, a primeira certeza, a certeza indubitável, uma evidência que resiste a qualquer dúvida cética, até mesmo à mais radical. O argumento do cogito apenas prova a existência do ser pensante.
Discurso do Método - A formação do filósofo
Descartes critica tudo aquilo que aprendeu na escola, uma vez que, não repousava me fundamentos ou princípios sólidos. Para se fundar na certeza, o conhecimento deve começar pela busca de princípios absolutamente seguros.
Discurso do Método - As regras do método
Descartes formula suas regras do método científico, são quatro e bem objetivas. No lugar das regras complexas e intricadas do método dedutivo aristótelíco, da teoria do silogismo, ele prefere as quatro regras simples mas que devem ser seguidas à risca. Irei apenas citá-las, uma vez que, já foram esclarecidas acima. São elas:
a) regra da evidência
b) regra da análise
c) regra da síntese
d) regra do desmembramento (verificação)
 Discurso do Método - A moral provisória
Descartes apresenta regras de uma moral provisória, que devemos adotar até que uma verdadeira ciência da moral, baseada na investigação da natureza humana, fosse desenvolvida. Não elabora regras de conduta universair e nem pretende ser um reformador. Estava preocupado com o aperfeiçoamento individual capaz de levar os indivíduos a fazerem uma justa apreciação dos bens. Nessa hierarquia dos bens, o lugar supremo conferido à liberdade, não ao saber. " Não basta julgar bem para agir bem", diz ele, porque a moral não deriva apenas do conhecimento.
 Considerações finais
Um dos grandes legados do cartesianismo consiste na rejeição de toda e qualquer autoridade, no processo do conhecimento, distinta da Razão. Ele proclama a independência da filosofia, que, de agora em diante, deve submeter-se apenas à autoridade da Razão. Devem ser excluídos dogmas religiosos, os preconceitos sociais, as censuras políticas e os dados fornecidos pelos sentidos. Só a Razão conhece!
A filosofia de René Descartes é eminentemente crítica e, o método para solucionar o problema crítico é a dúvida. O racionalismo cartesiano utiliza o método detutivo e tira sua metodologia das matemáticas,ou seja, nas ciências da natureza. Trata-se de uma filosofia decididamente prática, na medida em que nos leva compreender que a inteligência das coisas, a partir de seus verdadeiros princípios, fornece-nos os meios de dominá-las. Temos o poder de prever o futuro e dominar a natureza por nossas ações. Nossa condição no mundo transformou-se: não somos mais escravos da natureza. Pelo contrário, somos seus "mestres possuidores".
 
 
 
Bibliografia:
1- Descartes: a filosofia da mente de Descartes / John Cottingham; tradução de Jesus de Paula Assis. - São Paulo: Editora UNESP, 1999. 55p - ( Coleção grandes filósofos)
2- Descartes: uma biografia intelectual / Stephen Gaukroger; tradução, Vera Ribeiro. - Rio de Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 1999. 596p
3- Descartes; Um legado científico e filosófico/ Saul Fuks, organizador; Peter Mclaughlin...[et al.]. Rio de Janeiro: Relume Dumará: COPPE, 1997. 251p
4- Curso de Filosofia: para professores e alunosdos cursos de segundo grau e de graduação / Antônio Rezende (organizador). - 13.ed. - Rio de Janeiro; Jorge Zahar Ed, 2005. 311p
5- Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein/ Danilo Marcondes. - 5. ed. revista. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. 183p

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