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Um panfleto de idéias, arte e filosofia....

terça-feira, 3 de maio de 2011

Universais e Particulares

Em metafísica, o termo "universais" aplica-se a dois tipos de coisas: propriedades (como a vermelhidão ou a redondez), e relações (como as relações de parentesco, ou relações espaciais e temporais). Os universais devem ser entendidos em contraste com os particulares. Poucos universais, ou nenhuns, são verdadeiramente "universais" no sentido de serem partilhados por todos os indivíduos — um universal é caracteristicamente algo que alguns indivíduos podem ter em comum, e outros não.
Os universais foram concebidos como coisas que nos permitem captar intelectualmente uma ordem permanente, subjacente ao fluxo inconstante da experiência. Alguns dos deuses das antigas mitologias correspondem aproximadamente a importantes universais subjacentes — relações sociais, por exemplo, como quando se diz que Hera é a deusa do Matrimónio e se diz que Ares (ou Marte) é o deus da guerra. Muitas tradições do oriente e do ocidente têm lidado com o problema subjacente que gera as teorias de universais; não obstante, o termo "universais" está intimamente ligado à tradição ocidental, e o programa foi na sua maior parte definido pela obra de Platão e Aristóteles.

O termo vulgarmente usado em referência a Platão não é "universais" mas "Formas" (ou "Ideias", empregue no sentido de ideais e não de pensamentos), remetendo o termo "universais" mais a Aristóteles que a Platão. Outros termos cognatos com universais incluem não só propriedades, atributos, características, essências e acidentes (no sentido de qualidades que uma coisa tem não por necessidade mas por acidente), espécies e géneros, e categorias naturais.

Como principal consequência da utilização do "método dos geômetras", Platão propõe que se afirme hipoteticamente a existência de "formas" ou "essências" ou "idéias", que seriam os modelos eternos das coisas sensíveis. Essas essências seriam incorpóreas e imutáveis, existindo em si mesmas. Embora Platão as chame também de "idéias", elas não existem na mente humana, como conceitos ou representações mentais: ao contrário, existem em si, nem nos objetos (de que são modelos), nem nos sujeitos (que conhecem esses objetos). Não podemos apreender com os sentidos essa essência ou "idéia" incorpórea e intemporal, pois nossos sentidos só captam o material, o dotado de alguma concretude, o que está no espaço e no tempo. Mas podemos alcançá-la com o intelecto: ela é inteligível.
A mais importante questão que devemos colocar seria a de perguntar enfim que socorro as idéias trazem para os entes sensíveis, quer se trate de entes eternos (astros) ou dos entes que sofrem geração e corrupção. Com efeito, elas não são para esses seres a causa de nenhum movimento e de nenhuma mudança. Também não trazem nenhum concurso para a ciência dos outros seres...nem para explicar a sua existência, pois não são nem ao menos imanentes às coisas que delas participam; se fossem imanentes, talvez pudessem assemelhar-se a causa dos seres, como o branco é a causa da brancura no ser branco, entrando em sua composição... . Por outro lado, os outros objetos não podem tampouco provir das idéias, em qualquer dos sentidos em que se entende ordinariamente essa expressão de. - Quanto a dizer que as idéias são os paradigmas e que as outras coisas participam delas, isso não passa do uso de palavras destituídas de sentido, e de metáforas poéticas. Onde então se trabalha com os olhos fixos na idéias? Pode acontecer, com efeito, que algum ser exista e se torne semelhante a um outro, sem que por isso tenha sido modelado a partir desse outro. ... Além disso, teríamos diversos paradigmas do mesmo ser e, por conseguinte, diversas idéias desse ser; por exemplo para o homem teríamos o animal, o bípede, e ao mesmo tempo também o homem em si. Além do mais, as idéias não serão paradigmas apenas dos seres sensíveis, mas também das próprias idéias, e , por exemplo, o gênero, enquanto gênero, será o paradigma das espécies contidas nele: a mesma coisa será portanto paradigma e imagem. E depois pareceria impossível que a substância fosse separada daquilo de que ela é substância. Como então as idéias, que são a substância das coisas, seriam separadas das coisas?      (Metafísica)
Argumento do Terceiro HomemVários argumentos têm sido avançados para estabelecer a existência de universais, o mais memorável dos quais é o argumento do "um em muitos". Existem também vários argumentos contra a existência de universais. Há, por exemplo, vários argumentos regressivos derivados do chamado "argumento do terceiro homem" de Aristóteles contra Platão. Outra família de argumentos explora o que é conhecido como Navalha de Ockham: argumenta-se que podemos dizer tudo o que precisamos de dizer, e explicar tudo o que precisamos de explicar, sem recorrer a universais; e se podemos, e se somos racionais, então devemos fazê-lo. Quem acredita na existência de universais chama-se realista, quem não acredita chama-se nominalista.
Aristóteles alude várias vezes a um argumento assim denominado, contrário à doutrina platônica das idéias, dando-o por conhecido, portanto deixando de expô-lo (Met., I, 9, 990 b 17; VII, 13, 1039 a 2; El. sof, 178 b 36). Segundo Alexandre de Afrodisia (In met, I, 9), esse argumento consistiria em dizer que, uma vez que um homem individual é semelhante ao homem ideal, deve existir um "terceiro homem" do qual os dois participem. Mas esse é o argumento aduzido contra a doutrina das ideias de Platão, que no entanto não menciona o exemplo do homem (Parm., 132a).
Alexandre, porém, menciona também outras formas desse argumento do terceiro Homem. Vejamos:
1) Uma delas é a usada pelos sofistas: quando dizemos "o homem está passeando", não estamos falando nem da idéia de homem (que é imóvel), nem de um homem em partiicular; devemos então estar falando de um homem de uma terceira espécie.
2) Fânias, discípulo de Aristóteles, em seu livro contra Diodoro Cronos, atribuía ao sofista Polixeno o seguinte argumento: se o homem existe por participar da ideia de homem, deve haver algum homem que possua o seu ser em relação com a ideia; mas não será nem a própria ideia, nem o homem em particular. Finalmente, o próprio Alexandre nota que o argumento do terceiro homem, exposto na primeira forma, pode ser repetido ao infinito, porque a relação entre terceiro homem, por um lado, e ideia do homem particular por outro pode dar lugar ao quarto e quinto homem, e assim por diante.

Como Platão expõe o argumento por meio de Parmênides, contra a interpretação da doutrina das ideias que estabelece uma separação nítida entre ideias e as coisas, é provável que esse argumento fosse corrente na própria escola platônica; sua origem, porém, parece ser megárica ou sofistica (cf. a nota de W. D. Ross a Met., I, 9, na edição de Metafísica por ele organizada, bem como a nota de DIES a Parmênides, em Coll. des Univ. de France, VIII, p. 21). [Abbagnano]

Argumento do terceiro homem, feito contra Platão, é exposto assim: Os objetos grandes são grandes porque participam da grandeza. Mas juntando-se todos os objetos grandes mais a grandeza, tudo isso, que é grandeza, assemelha-se ou participa de uma outra forma da grandeza, que inclui a primeira e os objetos grandes. E se juntarmos estes e mais as duas grandezas, participam eles de uma outra forma da grandeza, maior ainda que as anteriores, e assim ao infinito. O mesmo se daria com os homens que participam da humanidade, mas aqueles juntos a esta, participam de outra humanidade e, assim, sucessivamente.

Considerações finais

Contudo, é evidente o sofisma, pois a conjunção dessa multiplicidade é feita noeticamente (no espírito humano). A forma da grandeza não é da mesma natireza que as coisas grandes e, portanto, a sua reunião não acrescentaria nenhuma grandeza maior, como se pretende, por considerar fisicamente a forma, o que aliás é o esquema sempre presente em suas críticas. A natureza das formas é meramente eidética, sem dependência dos esquemas noéticos.


 
 
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ferências Bibliográficas

1- Chauí, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, volume I / Marilena Chauí. - 2.ed., rev. e ampl. - São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 
3- Curso de Filosofia: para professores e alunos dos cursos de segundo grau e graduação / Antonio Carlos Rezende (organizador). - 13.ed. -Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

Crítica de Aristóteles a Platão

A doutrina das idéias de Platão

Universais em Platão e Aristóteles

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